domingo, 20 de janeiro de 2008

Dimensões


A Vida prova-nos a cada dia que não vale a pena termos algo por adquirido. O que hoje é uma certeza, amanhã poderá não sê-lo, ou então, poderá continuar a ser uma certeza, mas no significado inverso. Como assim? Tipo: hoje tenho a certeza que Amo, e amanhã chego à conclusão que tenho a certeza que não Amo.
Parece inconstante, parece contraditório, mas não é. É apenas a conclusão de que muitas vezes nos deixamos cegar pelo comodismo. O hábito de achar que amamos e até de dizê-lo, só por si, não torna verdadeiro o sentimento, torná-lo-à, quanto muito, socialmente correcto.

Não é isso que quero mais para mim, aliás, já não o queria há muito. É duro, claro que sim, concluir que afinal não se ama, quando até se pensava que sim. Procurar em cada lembrança o momento em que algo mudou, o que de facto mudou? Esta geração já não se limita a acomodar-se ao facilitismo que é manter uma relação pela estabilidade, pelo socialmente ou moralmente (para alguns) correcto e muito menos pelos filhos. Sim, também é facto que talvez esta geração não tenha aprendido a fazer a gestão de tantas dimensões que nos envolvem. Não procuro sequer encontrar os motivos, fazer comparações com outras gerações. Apenas verifico que é assim.

[Mas, atenção, chegar à conclusão que não se ama, não retira importância alguma ao amor que se sentiu! Se há algo que me baralha é ouvir alguém dizer, quando encontra um novo amor, que afinal não tinha amado o anterior. Se aparentemente pode parecer um mimo a quem está a ouvir, na minha opinião é uma hipocrisia. Nenhum amor morre definitivamente em nós, fica guardado naquele baú, transforma-se é certo, mas não morre, vira apenas lembrança boa, carinho, amizade]

A dimensão trabalho, ocupa-nos a grande parte do dia, absorve a maior parte das nossas energias, é exigente e pouco gratificante (por mim falo).
A dimensão filhos: a melhor de todas, sem dúvida, mas talvez também a mais prejudicada por todas as outras. Depois de juntos um pouquinho pela manhã, o reencontro dá-se ao fim da tarde, quando, na maioria das vezes, o cansaço provocado pelas outras dimensões, retira qualidade ao tempo que sobra até à hora de dormir, porque entretanto...
...A dimensão casa, obriga a que se faça jantar, depois do banho, entre outras obrigações e se esgote o tempo sem que possamos partilhar-nos.
Ao fim de semana mais do mesmo. O tempo está bom para passear? Pois, mas há casa para arrumar e limpar, roupa para tratar, lavar estender e passar, and so on, and so on ...
A dimensão social ficou para enésimo plano e resume-se práticamente a casamentos, aniversários e um ou outro cafézinho no fim de semana...

Onde ficou a dimensão casal? Não sei... esquecemo-nos? Ou nem tivemos tempo sequer? Acho que só restou tempo de dizer: até amanhã, ou neste caso: até sempre... até qualquer dia... vamos tentar de outra forma ser Felizes.

Hoje tenho a noção, à custa de algum sofrimento, que esta minha forma de ser não traz nada de bom, mas também não é algo que possa mudar, quando muito fazer algum ajuste aqui ou ali. O mundo, a vida, está exactamente para aqueles que se acomodam ao que falei. Esses constróiem uma vida, mais ou menos estável, têm os seus filhos, a sua rotina... Não amam, ou pensam que amam, mas são alegadamente Felizes. Espero que nunca tomem a consciência que tomei!

Mas as lágrimas lavam-me a alma e, graças a Deus, tenho feito bom uso delas...

Quero Amar na magnitude da palavra, e aprender a fazê-lo com todas as dimensões das quais não me posso abstrair. Não deixar de namorar nunca, deixar de namorar é o passo nº 1 para a acomodação... para o fim...

Às vezes pergunto-me: Porquê? Porque tudo tem de ser sempre tão dificíl? Mas depois, ergo novamente a cabeça, não quero sentir pena de mim, e digo: Quanto mais dificíl, melhor será o sabor no final ...

Sonhar ainda é possível... sonho sempre que o amor é livre como um passarinho e que, se tiver de ser, ele cá chegará...


"... a esperança é um Dom, que eu tenho em mim, eu tenho sim ..." Caetano Veloso, Sonhos

Esclarecimento: apesar de alguma amargura neste post quero dizer que acredito no Amor, sempre! E quero dizer que sei que existem casos de amor que duram uma vida, que os admiro muito, que os invejo positivamente. [2008/01/21]

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