... em Trás-os-Montes, acabada de chegar do Brasil, imunda como só as crianças sabem ficar... e um olhar que me parece meio perdido nesta foto... será? Não lembro...
Mas foi assim que senti hoje, ao olhar esta foto e ao olhar o espelho e a imagem nele reflectida...
Ingenuidade, genuinidade... será que há diferença no significado... penso que sim...
Será que alguma destas características, que tanto podem ser uma qualidade como um grave defeito, podem servir de justificação para os nossos erros, para a nossa insegurança, para a nossa impaciência, ou melhor ... ansiedade!? Penso que não...
E como viver e conviver com isto?
Porque é que um dia acordamos confiantes, de alma cheia, com vontade de viver a vida e o que de bom ela nos trás, naquilo que aceitamos como sendo o que nos faz felizes independentemente das circunstãncias - achamos que temos tudo na mão, mesmo que nada alcancemos, porque... "há palavras que nos beijam"... Vivemos intensamente e degustamos demoradamente estes momentos, apurando todos os sentidos ao máximo... só porque é assim, porque há amores assim, porque nos aceitamos assim, porque nos sentimos no céu... Vivemos de saudades do futuro, de esperança...
... e porque haverá outros em que, sem razão aparente ou aparentemente sem razão, tudo se desmorona, as certezas se esvaiem no espaço e no tempo e as incertezas se intensificam, a realidade é cruel e a tomada de consciência dói e fere de uma forma que nos tinhamos prometido não aconteceria... realizamos o lugar que ocupamos, o que na realidade representamos... aquilo a que nos votamos... e choramos desalmadamente e... aparentemente sem razão... e percebemos que não controlamos o futuro e a esperança esmorece, mas não morre... nunquinha!!
Depressão? Não tenho tempo nem vocação costumo dizer... mas o que não mata, mói... and I'm only human!!
Todas as nossas reacções, são condicionadas pela sensibilidade do momento, e estas, por sua vez, condicionadas por tudo o que nos envolve, somos fruto da sociedade em que vivemos, do meio em que estamos inseridos e é por tudo isso e que apesar de tudo... pretendo manter a minha ingenuidade e a minha genuinidade...
... sabem lá a que preço!
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De repente, vi-me menina, na Escola Primária - Ângulo Recto, na Amadora. Não era mais que um apartamento de 3 assoalhadas num prédio da principal Rua da Cidade. Uma sala de aulas e duas outras salas onde funcionavam os recreios, naquela altura, meninas de um lado, meninos de outro - o único ano em que tal me aconteceu, estavamos em 1981... Era já noite e eu era a última menina na escola, à porta, com uma "contina" (nem sei se é assim que se escreve), hoje temos o nome pomposo de auxiliares da acção educativa. A minha casa ficava pertinho, mas aquela rua imensa e cheia de trânsito parecia-me assustadora do alto dos meus 6 aninhos. As lágrimas assomavam-me aos olhos, será que se esqueceram de me vir buscar?? Poderá alguém perceber o drama vivido na altura, interiormente claro...
Como não podia mais esperar, e já não me lembro como a "contina" me deixou ir... saí da escola em direcção a casa. Empinei o meu nariz, como sempre nos momentos difíceis, e caminhei corajosa e decididamente rua a fora... Como estratégia, juntei os meus passos aos de outras pessoas apressadas por chegar a casa no final de mais um dia de trabalho, atravessei aquela estrada assustadora, na passadeira e junto a mais algumas pessoas. Por momentos apeteceu-me começar a correr sem parar, ou melhor, parar apenas em casa. nem olhei para a padaria dos meus bolos preferidos com as suas bancadas de mármore... cheguei a casa... sã e salva...
... afinal não se haviam esquecido de mim, apenas um malentendido entre a mãe e a avó que pensavam que uma e outra me iam buscar...
... afinal ainda gostavam de mim...
[perdoa se te faço mal...]