quinta-feira, 12 de julho de 2007

Desencanto


De regresso depois de uns dias de praia. Depois de alguns momentos passados com amigos muito queridos, o regresso à realidade.
E a realidade de hoje não é uma realidade fácil, nem sequer uma realidade agradável, longe disso.
Não gosto de política, ou dos políticos, raramente falo ou comento assuntos desta natureza, mas o que é facto é que cada vez mais me desencanto com o estado das coisas ... ao que chegámos. Não terei também eu uma quota parte de responsabilidade!? Quando penso que atingimos uma fase em que criticar elementos do Governo, dar opiniões, brincar até, dá direito a exonerações de cargos, expulsões, despedimentos e outras coisas que tais ... dá que pensar.
Para mim, que trabalho para o Estado, não sendo Funcionária Pública, estou a ver que qualquer dia tenho que andar com uma bandeirinha dizendo "I love Sócrates" ou algo assim parecido.
O meu desencanto vai desde as pequeninas coisas que se passam no meu trabalho, àquelas que dão direito a honras televisivas. Não foi assim que eu cresci, não foi para isto. Parece que estou a viver um retrocesso, um regredir no tempo e nas mentalidades. Não é isto que eu quero para o meu futuro e muito menos para o futuro do meu filho. A falta de perspectivas, a falta de incentivo, caminhamos mesmo para onde?? E quando ontem, em viagem, oiço na rádio que o novo Director do Centro de Saúde de Vieira do Minho, nomeado, foi o pior classificado num concurso para assistentes de medicina geral e familiar ... o que pensar?
E quando olho para o meu trabalho como pequena amostra da realidade deste país ... o desencanto é maior. Primeiro porque do estigma do funcionalismo público não nos livramos, e por muito que em circunstância alguma enfie qualquer carapuça do que é falado acerca dos mesmos, a realidade é que tenho um rótulo do qual não me consigo desfazer. Eu própria critico quando tenho que criticar, seja FP ou não. Gosto que se cumpram as responsabilidades e fico feliz no meio de tanto desencanto por saber que aqueles que comigo directamente trabalham apreciam e valorizam o que faço, mas a realidade é que isso de nada vale. Cerca de 5 anos para subir de índice (não categoria, entenda-se), novo Sistema de avaliação de desempenho completamente desfasado da realidade de serviço, uma coisa surreal, só vivendo e vendo é que se pode acreditar numa coisa destas.
Sinto que é hora de tentar dar um novo rumo à minha vida, sinto que o meu esforço por tentar credibilizar o meu Serviço, esbarra na inoperância e a incompetência daqueles que realmente podem, sou mero número no meio de tantos, estatísticas e números, é assim que somos considerados, cada vez as exigências são mais, e pior, sob ameaça dissimulada e sem qualquer contrapartida ou incentivo.
Para isto, para assistir à morte lenta deste país de brandos costumes e à beira mar plantado e que muito gosto, não ficarei. A minha luta é em vão, sinto-me a perder forças ... para isto, prefiro ir tentar a minha sorte noutro lado, noutro país que também é meu, de coração ...
Vou tentar e para isso já comecei a lutar ...

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5 comentários:

Anónimo disse...

Reflecte muito bem netinha.Compreendo-te tão bem mas ...mas ... Beijinho amigo.

Unknown disse...

Bastos, Grata pela preocupação que sei sincera! Nada será deixado ao acaso, acredite ...

Beijo grande

Anónimo disse...

Muita coragem e descernimento minha amiga, pois que de resto só resignação e isso, nunca.

Fernando júnior

Anónimo disse...

Peço desculpa, não tive discernimento e saiu-me descernimento (risos)

Fernando

Unknown disse...

Que bom ver-te aqui! E por acaso saberás onde posso encontrar algum discernimento?? Estava mesmo a precisar.

Beijo