Imaginem a cena:
Um corredor sem luz natural mas cheio de luz; sem ar natural mas cheio de ar condicionado (quando funciona).
Um corredor em que entre a cadeira de atendimento e a cadeira de espera se podem dar dois passos.
Imaginem este corredor apinhado de pessoas, algumas com carrinhos de bébés, outras com bébés ao colo, outras sem bébés de todo.
Imaginem cerca de 50 pessoas neste ínfimo espaço mesmo que falando baixinho entre si.
Agora imaginem estas pessoas falando alto.
Imaginem uma tentativa frustrada de conseguir perceber o que pretende a/o cliente que estou a atender no meio deste barulho todo, deste ambiente aconchegante, acolhedor, entre outros adjectivos, todos positivos, que lhe queiramos atribuir.
Imaginem um pai (?) jovem com uma criança no colo (não teria mais que 2 aninhos), que chora e grita desgovernadamente (como convém para ter prioridade de atendimento) e que este pai (?) jovem encontra como solução para que a criança se cale (ao invés de a levar a dar uma voltinha até á rua, onde até se respira) dar-lhe umas valentes palmadas no rabo gritando, literalmente, para que ela não grite que senão apanha. E quanto mais ele gritava e batia, mais a criança lhe seguia o exemplo.
No meio de tudo isto, vozes começam a levantar-se contra aquela atitude. Uma senhora dizia: "Mas porque não leva a criança daqui", resposta "Meta-se na sua vida, senhora". Um senhor já passando a barreira dos 70 anos certamente, de enervado que estava vocifrava enervado "tenho quatrrro netos em casa, crrriei-os e nunca lhes encostei a mão! Mas agorra estes inteligentes, a juventude é assim" * gerou-se um alvoroço tal que eu via jeitos de desatar tudo ao estalo ali mesmo, enquanto eu fazia um esforço hercúleo para tentar sequer ouvir o que a minha cliente pretendia.
Implorei à minha coordenadora que tomasse uma atitude no sentido de mandar aquela gente ter mais respeito e ficar em silêncio (piada, pois!), sendo que ela ligou para a Unidade de Gestão que, riam-se agora, quando finalmente todos pareciam ter feito pacto de silêncio ouve-se a voz a que chamamos do além: " Pede-se a todos os utentes o favor de se manterem em silêncio por forma a prestarmos um melhor atendimento"!
Assim começou mais uma tarde no IP, já só faltavam 6 horas até sair... o prenúncio duma tarde bem passada.
Chegámos ao fim, depois do Sistema Informático, mais uma vez, entrar naquela sua dança do caí/levanta, actualizações e mais não sei quê. Eram 20H, estávamos finalmente despachadas! Finalmente hora de saída!
Quando chego à porta ... breu! São 20H e está de noite quando ainda há uma semana , se tanto, eu tinha que me valer dos meus óculos de sol, desesperei. Não estava só escuro... estavam mesmo a chover! Chuva grossa e com força que me acompanhou até chegar ao carro, de sandaleca e manga curta (claro)!
Fui acompanhada até casa pelo Céu iluminado de fortes relâmpagos num espectáculo que, quem me conhece sabe que aprecio, ouvindo música e pensando:
Valham-me as manhãs! por enquanto, claro....
* a repetição dos "R's" é propositada. Em Setúbal, os "nativos" são conhecidos por carregarem nos R's
4 comentários:
Olá Natacha!!!
Se os teus dias são assim, como serão os teus pesadelos?
Beijo lonnnnnnngo, para chegar aí.
LUS
Assim dá gosto, amiga!!! :D
Como é que farias um post como este, se o dia tivesse corrido dentro da "suposta normalidade"?
Desculpa-me... mas ainda bem que assim foi...diverti-me à brava!
Obrigado :)
Um beijinho
Não vai mesmo querer saber ;)
Beijo grande
João
Lendo agora também me diverte, mas cada vez que penso em como foi... UFA!! É dose :)
Beijo
Sim... mas sempre que partilhares esta história verás que o vais fazer sempre com um sorriso nos lábios...
É sempre engraçado quando nos rimos das desgraças (quando elas são assim "pequeninas", claro!) Outras há que não têm graça nenhuma, obviamente...
;) Um beijo
Enviar um comentário