domingo, 8 de abril de 2007

O penúltimo sonho ...


"Encontro-me num silêncio doloroso.
As horas pesam-me mais do que a minha alma pode suportar. Porque não me respondes?
(…)
Perdi-me. Sem ti já não me reconheço. Como é possível que o amor nos faça e desfaça a seu bel-talante? Como é possível ficar em cinzas, sem acabar de arder? Por vezes, sinto medo de não poder continuar. Se ao menos me enviasses uma única palavra. Se me dissesses: «Não me fui embora, estou contigo.»
O teu rosto passeia-se pelas minhas noites cansadas; sinto-o flutuar entre as minhas pálpebras sem olhos.
Que dedo me apontou para ser eu o escolhido por este amor impossível?
Sinto-me mais longe de mim do que de ti. Vagueio por esta ausência tua com o meu corpo vazio e, quando penso que não existo, os meus olhos morrem de sede…
Quanto desejo voltar a ver-te.
Esta saudade é como um lodo espesso que me sufoca. Já não sei se vivia antes de ti, ou se comecei a morrer mal te vi.
O viver e o morrer juntam-se, num único acto.
(…)
Ainda continuas a pensar que um dia voltaremos a estar juntos?
Diz-me que sim. Que ainda pensas que viveremos juntos até mais além do penúltimo sonho …"

Excerto de "O Penúltimo Sonho" Ângela Becerra,
Prémio Azorín 2005

Um dos Romances mais envolventes que já li. Se lhe juntarmos Chopin com "Tristesse" ... sem palavras! Leiam e depois digam-me ...

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