terça-feira, 4 de março de 2008

João


Não sei porque me lembrei agora do João...

O João era um amigo, vizinho e às vezes "namorado" dos tempos que eu morava na Amadora... o 2º portanto... namorado.
Eramos essencialmente muito cúmplices, os melhores amigos como gostávamos de dizer quando as coisas do amor não se nos baralhavam... Na verdade ele era apaixonado, irremediávelmente, pela minha melhor amiga, a Lete... que não lhe passava cartão... até um dia...
Eu acho que me fazia bem acreditar ser apaixonada por ele, ele protegia-me, era só 4 aninhos mais velho, o que naquela altura era significativo pois era a diferença entre ter 14 e 18 anos...
Pensando hoje ainda não se percebe, acho também que ele gostava de me ter como apaixonada, possívelmente isso alimentava-lhe o ego, não me escondia o seu amor pela Lete, pedia-me ajuda, eu percebia, fazia o que podia, ouvia... ouvia... ouvia...
Até que ele um dia se cansou da Lete, ou dos foras dela, e começámos a namorar... eu não tinha ilusões... Porque, vá-se lá entender as mulheres, o que é facto é que isto despertou na Lete o interesse pelo João. Ou seja, da mesma forma que o João adorava ser adorado por mim, a Lete adorava ser adorada pelo João e quando as coisas mudaram sentiram-se perdidos. Sim, porque também fiz o meu papel de desinteressada...
Bom, conclusão... no dia de eu sair definitivamente da Amadora deixei a mão do João na mão da Lete, na firme convicção de que eles acabariam por ficar juntos e para isso eu ia torcer... ao longe! As últimas palavras que lhe ouvi foram: "Adoro o teu sorriso!" - 1989...

Mudei para Setúbal... durante algum tempo o João ainda me telefonou para desabafar, para chorar, às vezes sóbrio, outras nem tanto... quantas vezes isto tinha acontecido em presença, quanto colo lhe dei com o coração nas mãos ouvindo-o lamentar o seu amor pela Lete, a mim, logo a mim que gostava dele...
Da Lete não mais soube...

Passaram-se anos e em 2003 recebo um telefonema no trabalho, uma voz de Homem, que me pediu se podia sair durante 10 minutos e ir até ao café. Perguntei quem era: "O João- da Amadora" - explicar o que senti não é possível - é como se de repente voltassemos atrás num tempo. O encontro foi qualquer coisa de espectacular, ao mesmo tempo parecia que ainda ontem nos tínhamos visto, eu agora com 29 e ele com 33, eu grávida e ele já com um filhote de 2 aninhos.
Curioso o que ele tinha para me dizer passados todos estes 13 anos desde aquela despedida à janela...
"Desculpa Natacha!" Fiquei baralhada... confesso. "Desculpa por tudo", foi o que ele voltou a dizer. Sorri-lhe. Será que ele não compreendia que não havia o que desculpar? Será que é assim tão difícil compreender que quando aceitamos determinadas regras de jogo e entramos nele estamos a assumir a despesa? "Não tenho nada para te desculpar, vivemos tempos tão bonitos de cumplicidade, disse-lhe eu. Eu gosto de recordar esses tempos e sou feliz quando os recordo, nada recordo com mágoa." "Tu eras uma menina" ... a minha resposta foi simplesmente, "e tu eras um menino apesar dos teus 18 anos, nada mais que um menino" Rimo-nos, falámos das nossas novas vidas e acabou o tempo, eu tinha de voltar...

Voltámos a falar uma ou duas vezes até que o João "desapareceu" do mapa again. Não faz mal, aguardo mais 13 anos se for preciso, as amizades como os amores, ou os dois em conjunto, vivem pacificamente em mim...

Não consigo deixar se ser eu, assim ... por muito que às vezes me custe...

Ah... vim a saber que o João e a Lete ainda namoraram durante bastante tempo, tiveram até os convites para o casamento escolhidos, but... não chegou a acontecer...

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