Lembro-me das aulas de Filosofia do 12º ano. Não era grande fã, pelo que tinha passado no 10º e 11º ano com o famoso professor João Pedro (cego), rigorosissímo e que um dia me deixou gelada quando, sentada de lado na cadeira e olhando pela janela lá bem fundo no horizonte e alheada de tudo ele me disse: "Natacha, porquê esse ar tão pensativo?" - Oppps, pensei eu... quéquéisto!? :D Era prática nas aulas lermos os textos do livro em voz alta e era ele quem ordenava quem lia e mudava derrepente o leitor para verificar que todos estavam seguindo a lição - e estavam :D
Bom, mas já estou a fugir ao tema, só o Professor João Pedro daria um post :)
Notamos todos quantos tinhamos tido este professor, que chegámos ao 12º ano em clara vantagem sobre os que tinham vindo de outras escolas. Encontrámos uma outra excelente professora, nortenha e de pronúncia peculiar... Sobre esta professora tenho duas especiais recordações...
A primeira, quando ela muito entusiasmada nos informa de que já preparou o teste e que ia sair algo do Principezinho para ser comentado à luz da matéria dada. Disse-lhe: "Professora, Só com o coração se vê bem - o essencial é invisível ao olhar" - olhou para mim quase com terror, como quem diz: tanto tempo para preparar e agora... Perguntou-me como sabia, mas se para mim aquela é a frase que me acompanha desde sempre - achei que só poderia ser. Limitou-se a dizer à turma: "Aproveitem a deixa" :D
A outra... quando muito entusiasmada, como sempre, falava de Kant - o fenómeno e o númeno a que também se poderia chamar noumeno e bla bla bla. Ora, como ela era da invicta, saíu-me um: "professora, mas noumeno é com pronúncia não é? " - ainda me lembro da cara dela, corou e desatou a rir com toda a turma...
Mas é de númeno que quero falar, o númeno de Kant de quem muito me tenho lembrado e não será pelo trabalhão que me deu (mas que me valeu um 78% na Prova de Aferição)... O que é o númeno de Kant? Utilizarei a wikipédia para explicar pois já não saberia como por palavras minhas:
Númeno, no kantismo, é a realidade tal como existe em si mesma, de forma independente da perspectiva necessariamente parcial em que se dá todo o conhecimento humano; coisa-em-si, nômeno, noúmeno (Embora possa ser meramente pensado, por definição é um objeto incognoscível.)
Obs.: por "perspectiva necessariamente parcial" devemos entender por aquilo que ocorre no tempo, portanto númeno é uma realidade que não depende do tempo para existir, e por isso o conceito de númeno se opõe ao conceito de fenômeno ('no kantismo'). Equivale a uma realidade absoluta.
Ou no dicionário:
do Gr. noumenon, coisa pensada
s. m., Filos.,
objecto do pensamento por oposição a objecto sensível;
na filosofia kantiana, a coisa tal como é em si mesma e que escapa às possibilidades de conhecimento do homem, a quem só é dado a conhecer o fenómeno;
aquilo que o espírito pensa, mas não conhece.
Númeno é pois, segundo Kant, a coisa em si ...
Não vale mesmo a pena!! A coisa em si é alheia a toda e qualquer perspectiva com que a queiramos ver, medir, julgar... É a realidade, nua e crua... fenómeno é a realidade criada por cada um de nós, pela nossa sensibilidade...
Dá que pensar... digo eu...
5 comentários:
Um pouquinho complicado para programa de fim-de-semana. Estes dois diazinhos não foram feitos para serem passados a pensar, mas sim para (des)pensar tudo !!
Dois diazinhos... que sorte :)
Eu, como só vou ter um :s ... deve ser por isso ...
;-)
;-)
E pensando...
Num mundo exterior dominado por números, e um interior feito de sensibilidades e sentimentos, como conciliar os dois e ainda assim conseguir ser feliz?
BEIJO.
Minha porção poeta me faz numenalista...
...embora seja do fenômeno que extraio meu (material) sobreviver.
Saudade!
Fernando (Lusbelo)
Será o primeiro a saber... quando eu chegar lá :)
BEIJO!
Nelsinho,
Completamente!! Gostei da análise...
Beijo e saudade
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